Erik Gandini (Raja Sarajevo, 1994; Videocracia, 2009), cineasta e produtor italiano, em seu filme Surplus, proporciona uma discussão acerca dos problemas acarretados pelo consumismo irresponsável, marca da sociedade atual.
O excesso de produção, aliado aos intensos apelos publicitários, transforma os indivíduos em meros consumidores, seres robotizados, rotulados pelos bens que acumulam e condenados à escravidão do consumo desenfreado.
O excesso de produção, aliado aos intensos apelos publicitários, transforma os indivíduos em meros consumidores, seres robotizados, rotulados pelos bens que acumulam e condenados à escravidão do consumo desenfreado.
A propaganda apresenta o novo a cada instante, tudo é descartável, os produtos precisam ser substituídos numa velocidade nunca antes vista, provocando desastres ambientais e sociais e impossibilitando um desenvolvimento sustentável. Os cidadãos, por sua vez, vão ao encontro de uma felicidade vendida pela mídia e se submetem a crer nas ilusões que remetem à compra de produtos supérfluos, mas cercados por uma aura de status criada pela indústria cultural.
Em Surplus, o capitalismo e o socialismo são confrontados e ambos estão em xeque. Para o autor, não há saída: os dois modelos fracassaram e ambos caminham para o colapso. O olhar pessimista do filme incita à reflexão sobre o modo irracional de viver das sociedades humanas. Quando demonstra que a humanidade compartilha o mesmo destino, Gandini evidencia que as atitudes levianas das nações – em especial, dos países ricos - levarão à vida na terra ao eterno ocaso.
O filme traz uma proposta inovadora, as cenas são projetadas como num vídeo clipe, com o áudio de diversos trechos da entrevista do teórico primitivista, John Zerzan, declarando as mazelas advindas do processo de globalização e massificação social. Como cenário, o confronto entre manifestantes e a polícia armada, durante o encontro do G8, em Gênova. As imagens revelam o caos em que a sociedade de consumo está inserida.
A discussão perpassa pelo conflito ético decorrente da atitude dos países desenvolvidos em relação aos países pobres. Segundo as estatísticas reveladas no documentário, as superpotências consomem 80% de tudo o que é produzido no mundo, deixando um rastro de pobreza, exploração, atraso e danos ao meio ambiente.
A exploração do homem pelo próprio homem também é discutida em Surplus. Ao mostrar trabalhadores indianos descarregando navios, o autor contesta a jornada excessiva de trabalho, que aliena o homem de sua felicidade e bem-estar, como afirmava Marx. As classes dominantes desviam a atenção dos problemas sociais com o objetivo de manter o status quo.
Na cena em que um líder de uma poderosa multinacional evoca o desenvolvimento, fica evidente que o consumo é a força motriz das sociedades tecnológicas. Como consequência, não há liberdade. O desejo de consumir aprisiona o homem “pós-moderno” num movimento cíclico para satisfazer necessidades insaciáveis.
O sistema, criado pelo homem, ameaça seu criador. O mundo está na iminência de uma revolução, em que as massas, feridas em sua dignidade, sairão no embate contra as elites econômicas. Esta é a mensagem deste filme polêmico, envolvente e extremamente inquietante, recomendado para todos que se encontram inseridos na chamada civilização.
Iranildes Costa, graduanda em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.
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