o peso das palavras e a mudez
diante do que é transitório.
A vida vale pelos precipícios,
pela morte, por seus labirintos,
pelos seus formatos perecíveis.
Dor é a dor dos oprimidos
e não a dor dos corações partidos
e não a dor do soco do inimigo.
É mais a dor do fundo das feridas,
a cicatriz das almas humilhadas,
o olhar para trás dos fugitivos.
O silêncio em que se debruçam
as marcas da nossa fome
e o seu desejo calado.
As suas assombrações,
o seu delírio, a febre
enlouquecida das sezões.
Tudo junto na memória
das coisas construídas
à margem do pensamento.
E sei que esta melodia,
estes sons desencontrados,
repetem o mesmo tema:
homem, lembra o teu nome,
não esqueças o teu nome
não te esqueças do teu nome.
Pois a lembrança se parte
quebrando-se nas muralhas
de ódio e de esquecimento.
Escreve-se no teu rosto,
na palma de tuas mãos,
por toda a tua lembrança.
Por que não se nasce sem nome?
Não se morre sem ter nome?
É esta a vida do homem.
(Celso Japiassu in O Itinerário dos Emigrantes, 1980.)
Créditos da imagem: Clauz Jardim, sob uma licença Creative Commons.
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