terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um nome

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Quase não falo. Trago presos
o peso das palavras e a mudez
diante do que é transitório.


A vida vale pelos precipícios,
pela morte, por seus labirintos,
pelos seus formatos perecíveis.


Dor é a dor dos oprimidos
e não a dor dos corações partidos
e não a dor do soco do inimigo.


É mais a dor do fundo das feridas,
a cicatriz das almas humilhadas,
o olhar para trás dos fugitivos.


O silêncio em que se debruçam
as marcas da nossa fome
e o seu desejo calado.


As suas assombrações,
o seu delírio, a febre
enlouquecida das sezões.


Tudo junto na memória
das coisas construídas
à margem do pensamento.


E sei que esta melodia,
estes sons desencontrados,
repetem o mesmo tema:


homem, lembra o teu nome,
não esqueças o teu nome
não te esqueças do teu nome.


Pois a lembrança se parte
quebrando-se nas muralhas
de ódio e de esquecimento.


Escreve-se no teu rosto,
na palma de tuas mãos,
por toda a tua lembrança.


Por que não se nasce sem nome?
Não se morre sem ter nome?
É esta a vida do homem.

(Celso Japiassu in O Itinerário dos Emigrantes, 1980.)

Créditos da imagem: Clauz Jardim, sob uma licença Creative Commons.

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